Comunicação Não Violenta: por que adotar nas empresas?
O autoconhecimento e a comunicação andam juntos por uma relação interpessoal mais saudável
A Comunicação Não Violenta (CNV) é uma metodologia que foca na redução de conflitos e promove a conexão entre os interlocutores pelo uso de palavras sem expressões violentas que causam culpa, constrangimento e vergonha ao outro e a si mesmo.
A CNV é apoiada pelas técnicas da observação, do sentimento, necessidade e pedido, cujos detalhes você vai conferir neste artigo. Vamos entender, ainda, com mais profundidade sobre o conceito, como aplicá-lo no dia a dia das empresas e qual a dinâmica dos quatro pilares.
Conceito da Comunicação Não Violenta
A Comunicação Não Violenta foi desenvolvida pelo psicólogo Marshall Rosenberg no início dos anos 60. O livro: Comunicação não-violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais, é considerado o manual prático da metodologia para aprimorar as relações interpessoais e diminuir a violência no mundo.
O termo não-violência foi inspirado em Mahatma Gandhi, líder histórico no movimento de independência da Índia e que tinha como filosofia a pacificação e não-violência, e se refere ao estado natural do coração que é cheio de compaixão e livre de violência.
Julgamentos moralistas e críticas constroem muros ao invés de pontes, prejudicando o fluxo da comunicação. Por isso, a CNV trabalha justamente na percepção do que está por trás da mensagem e como podemos identificar os nossos sentimentos, sem se machucar e prejudicar o outro.
Essência e importância da Comunicação Não Violenta na empresa
Segundo uma pesquisa desenvolvida pela professora Christine Porath, publicada no Harvard Business Review, 48% dos colaboradores diminuem intencionalmente sua força de trabalho por conta da falta de respeito no ambiente de trabalho e 66% dizem que sua performance cai quando são tratados de forma desrespeitosa.
Os prazos apertados, metas desafiadoras, o sentimento de competitividade e o medo de errar geram conflitos que podem ser evitados como, por exemplo, às formas de se questionar o colega com rispidez, críticas pesadas ou julgamentos moralistas.
Portanto, junto com todo o trabalho de comunicação interna e compromissos do RH em alinhar os propósitos dos colaboradores com a empresa, a Comunicação Não Violenta trabalha para a construção da confiança e a conexão uns com os outros, minimizando conflitos que afetam a produtividade e também a rotatividade de pessoas na empresa.
Para isso, é muito importante que o fluxo de comunicação e as mensagens transmitidas sejam recebidas com clareza, a fim de evitar confusões, dúvidas e estresse. No momento do líder se apresentar ao seu liderado, é necessário identificar o que se espera, saber qual o sentimento que se sente naquela situação e como requisitar que o próximo trabalho seja melhorado na próxima entrega, sempre usando argumentos específicos, evitando que o outro sinta-se perseguido.
Por exemplo, em vez de dizer ao liderado: “você sempre escreve esse relatório errado”, repense e reformule a frase da seguinte forma:
“João, nos últimos três relatórios que me entregou, você ainda não detalhou os pontos da última reunião de marketing que fizemos. Isso me gera um incômodo, pois preciso que o documento esteja o mais completo possível para levar à nossa diretoria com todos os tópicos discutidos. Por favor, você pode refazer esses pontos antes da entrega final?”
Isso serve também para o colaborador que foi cobrado, entendendo a mensagem recebida do líder, apurar o sentimento e não julgá-lo. Assim, o colaborador consegue formular uma resposta com mais consciência e profissionalismo.
Um outro ponto a ser considerado é que as empresas mantenham em sua cultura organizacional a liberdade de expressão e empoderem seus colaboradores a falarem e não se sentirem retaliados em reuniões, “pisando em ovos” para se comunicar ou apontar quando algo não está correto. Dessa forma, o compartilhamento de ideias e a clareza das informações evitam dúvidas e erros de interpretação.
O Dr. Sydney Finkelstein, professor de Administração e Diretor do Corpo Docente do Tuck Centre for Leadership no Dartmouth College, e que ministra cursos sobre liderança e estratégia, diz em entrevista a um blog que é necessário que as empresas criem uma cultura em que as pessoas sejam incentivadas a falar.
Os quatro pilares da Comunicação Não Violenta
Como abordado nos parágrafos acima, as bases da Comunicação Não Violenta apontadas por Marshall Rosenberg servem para todas as situações reais no momento de se expressar ou ouvir. Conheça:
Observação
Para se conectar com o outro, é preciso se manter no presente e ouvir o que ele tem a dizer. É deixar de lado por completo as opiniões, julgamentos e avaliações para não deixar que você se exponha a um argumento generalista.
Por exemplo, ao invés de dizer: “você sempre é o último a ir embora para casa”, substitua para: “você tem o costume de ir embora para casa depois das 18h”. Seja específico na fala.
Entenda a situação da outra pessoa, quais as necessidades envolvidas e o que se espera. É necessário eliminar os rótulos e adotar uma postura de ouvinte que percebe toda a conversa com inteligência.
Sentimento
Aqui entra o exercício de autoconhecimento: identificar os sentimentos e como expressá-los da melhor maneira possível. É entender, no momento que recebemos uma mensagem de alguém, quais são as sensações que afloram e adotar uma postura de responsabilidade sobre ele.
Os sentimentos não podem ser negligenciados ou escondidos, a fim de evitar terceirizá-los e criar tensões e conflitos desnecessários com as outras pessoas.
Por exemplo, quando falamos: “sinto que todos gostam de me criticar”, estamos sendo generalistas. É necessário contar uma narrativa com detalhes das pessoas e lugares que fazem esse sentimento aparecer, como, por exemplo: “hoje de manhã, minha esposa disse que meu cabelo está muito grande. No escritório, meu chefe falou que meus indicadores não estão satisfatórios.”
Necessidade
O terceiro pilar da Comunicação Não Violenta é compreender as nossas necessidades. Aqui é onde devemos identificar a raiz de nossos sentimentos e verificar porque sentimos certas emoções quando recebemos alguma cobrança de alguém ou nos expressamos de determinada maneira.
Por exemplo, quando você diz ao seu gestor que não está dando conta de fazer aquelas atividades, qual a sua necessidade por trás daquela mensagem? Será que falta apoio, ferramenta, controlar o tempo? Identificar essa raiz permite que tudo fique mais claro na hora de fazer uma solicitação.
Quando não temos a consciência do que queremos, colocamos a culpa nos outros e os responsabilizamos pelas frustrações e não atendimento das nossas necessidades. Portanto, é fundamental compreender quais são as nossas reais necessidades por trás de cada mensagem e comunicá-las de forma direta para requisitar algo de forma objetiva.
Pedido
Esse é o último pilar da Comunicação Não Violenta e como expressar o que gostaríamos para que as outras pessoas possam entender nossas reais necessidades. Mais uma vez aqui entra a clareza das necessidades.
M. Rosenberg diz no livro: “Comunicação não-violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais” sobre as requisições e linguagens positivas, que são aquelas em que se pede para que algo seja feito, e as linguagens negativas, quando pedimos que algo pare de ser feito.
Por exemplo, ao oferecer um feedback para o colaborador, o líder fala: “você tem que parar de se sentir retraído ao tirar dúvidas”. Isso não traz ao liderado quais ações concretas ele deve fazer para compartilhar as dúvidas. Aqui, neste caso, o gestor poderia ter usado o pedido de outra forma, como: “Marque na agenda, todas as quintas-feiras, às 11h, para discutirmos sobre o planejamento da semana que vem e aproveitar para tirar suas dúvidas e projetos em andamento”.
Conclusão
A Comunicação Não Violenta é uma forma de se expressar para diminuir os conflitos entre as relações pessoais e profissionais. É entender a si e ao outro para estabelecer uma comunicação mais direta e com muita clareza, tanto na hora de se expressar quanto no momento de ouvir.
Cada um é responsável por assumir seus sentimentos e necessidades, sem terceirizar ou culpar os outros. Para isso, a CNV também é uma ferramenta de autoconhecimento para melhorar o ambiente profissional, contribuir para a evolução dos relacionamentos e no aumento da qualidade do trabalho.
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